domingo, 14 de julho de 2013

#OCasamentodaDonaBaratinha Vamos além!

Recentemente vi na minha timeline uma foto de uma manifestante interpelando uma linda noiva no momento em que ela entrava na igreja. Uma outra foto mostrava uma outra manifestante vestida de branco com um cartaz que  mandava a mesma linda noiva ir de ônibus para o local da festa. Fui ao link do Mídia Ninja para ver como estava a coisa na entrada da cerimônia. A festa seria em um elegante hotel da Atlântica.

Chocante ver uma fila de policiais e um corredor de seguranças de terno que servia de escudo para os convidados constrangidos, que eram recebidos com gritos de ordem. Chocante também, foi ver os olhares de triunfo de algumas madames quando chegavam no alto da escadaria da igreja, arvoradas na segurança policial e privada. Olhavam com desprezo para a plebe. Os cães ladram, mas a caravana não pára.

Logo depois, durante o festim, a nobreza tupiniquim, aviltada com o barulho, de dentro da segurança do hotel atirava notas de R$ 20,00 e R$ 100,00 para os comuns. Ironia ou generosidade? Não vi ninguém fazer isso enquanto entrava, enquanto compartilhava o espaço com a plebe. Achei que covardes fossem os plebeus, que fogem acuados dos arautos da ordem e depois voltam para gritar: - Olha eu aqui de novo! Olha eu aqui de novo!.

O banquete continua. Os gritos continuam. Um dos integrantes da nobreza, protegido por seus homens de armadura e pelas paredes de sua fortaleza, no clímax de sua indignação com aquela gente ingrata atira um cinzeiro contra a massa. Achei que a nobreza fosse civilizada. Achei que os "vândalos" estivessem apenas naquela minoria denunciada pela Grande Mídia.

O resultado é óbvio. Um dos manifestantes sofreu um corte profundo na testa e a massa revoltada partiu para a pedrada e foi, novamente, violentamente reprimida pela máquina psicótica do Estado. Que Autoridade seria tão importante, tão poderosa, que teria uma fila de PM's cuidando para que o melhor dia da vida da noiva seja realmente o melhor? Que autoridade usa a PM para conter a reação contra um ato covarde, ignóbil e inconsequente de um amigo ou parente seu, PM esta que, ao mesmo tempo, se omite diante do flagrante delito praticado de dentro das muralhas? Quem melhor para prender um irresponsável ou ébrio que atira um cinzeiro da varanda do hotel, senão a PM? Em vez disso, a Corporação se curva à autoridade dona da festa, em um óbvio comportamento de exceção, exceção baseada em sangue azul. Se você ainda não sabe quem é essa autoridade, a noiva é filha de um dos maiores empresários de ônibus do Rio de Janeiro.

A mensagem dos manifestantes é grosseira, rude, deselegante e inoportuna, como qualquer cidadão amante da moral e dos bons costumes diria, mas ela é boa:

- Sabemos quem vocês são! A culpa também é de vocês!

A mensagem é das mais importantes, mas também era da mais esquecidas. Vi uns poucos avisos sobre isso, sempre em textos muito longos para os cultuadores do espetáculo. Espero que os fabricantes das várias imagens gritantes e simplistas incluam também este absurdo. Se há alguma vantagem nesse ativismo espetaculóide do Facebook, com certeza seria a inclusão desse grupo seleto nas fotos impactantes, com frases prontas que refletem uma sabedoria "unânime". Já passou da hora dessa realeza ser lembrada.

Realeza invisível e muito poderosa, tão poderosa que duas autoridades máximas do Executivo do Rio de Janeiro foram ao pelourinho de bom grado, sem apontá-la. Tão poderosa que a P.M. protege o casamento de seus parentes e protege também seus convidados criminosos, que atiram cinzeiros pela janela. Tão poderosa e tão alheia a tudo isso que, com tanta turbulência nas ruas, tem a coragem de esfregar um casamento faraônico na cara do povo. Isso não é maldade. É apenas a arrogância de quem realmente não se preocupa com o que está acontecendo, para eles nada mudou, nem mudará, a não ser, claro, a fila do check in.

Tanto é assim que nosso Prefeito, em suas justificativas após o cachação público que levou, falou em cortar custos, impostos, mas não falou em cortar o lucro deles, não falou sequer em examinar a questão. O prefeito de São Paulo, ao menos, teve a coragem de falar no assunto. O Dudu? O mesmo que contou com generosas doações deles em campanha, apanhou por eles. Se expôs por eles, fez pronunciamentos por eles e não falou em cortar os lucros deles. Eles são tão poderosos que a autoridade máxima do Executivo da Capital do Estado do Rio de Janeiro se atirou a frente deles, recebendo, como um mártir, todo o flagelo público. Se essa fidelidade toda fosse com a coletividade os cariocas estariam nos Jardins do Éden. Até o mais valente dos jagunços, após muito flagelo, pode vazar o nome de seu coronel. Nosso Prefeito não. Nosso prefeito é tão valente que leva um tapa público, dá a outra face, mas não os entrega. Só espero que a C.P.I. do ônibus possa nos iluminar nesse assunto.

Se o momento é de ativismo e transparência, precisamos verificar o quanto os donos do mercado do transporte embolsam. Precisamos reavaliar todos os contratos de concessão, a começar pelo caso deles, obviamente o mais urgente. Já que a pontaria do grito se calibrou, precisamos ir para a rua sempre. Exigir investimento em infraestrutura, continuar exigindo um serviço justo e acabar de vez com a mercantilização dos direitos mais básicos do cidadão, como se locomover.

Se o momento é de ativismo, transparência e democracia, que um dos nobres que estava na festa tenha a decência de vir a público denunciar o criminoso que atirou o cinzeiro. Os políticos não são os únicos que precisam mudar seu comportamento.

Vamos além! Vamos da porta do Copacabana Palace para frente da sede de cada uma dessas empreiteiras que se banquetearam com os elefantes brancos da Copa. Vamos apontar para cada uma delas, que fatiam convenientemente as obras públicas do País em um cartel colonial. Vamos às portas do bancos, vampiros que praticam sua sangria no povo trabalhador desde que o salário deixou de ser pago em sal. Vamos apontar para as poucas famílias que controlam os principais canais de mídia do País e perguntar se eles acham que o povo continua idiota. Vamos parar de dar tapinha nas costas de lobistas e tratar com cordialidade herdeiros de impérios falidos que, apesar de deixar todos os seus ex-empregados no calote, continuam jogando polo, andando de carro esporte e desfilando com bonecas quase infláveis, verdadeiros troféus de um mundo machista, ganancioso e retrógrado.

Corrupção é crime. O Código Penal é bem direto e claro ao tipificar as suas duas modalidades, a ativa e a passiva. Importantíssima essa nova mensagem e que ela seja gritante, convicta, a nossa corrupção, obviamente, não é só da classe política. Impeachments, golpes, eleições e reeleições não foram suficientes para evitá-la. Dizer que um governo é mais corrupto do que outro é ridículo, pois os Barões são os mesmos há muito tempo, o sistema é o mesmo há muito tempo e os interesses e prioridades são os mesmos há muito tempo. Há muito tempo que temos um Estado que serve apenas à nobreza tupiniquim e caso os gritos de ordem continuem a se focar nela, confio em mudança.

Ao longo de todo este tempo de protestos as pessoas se esqueceram de que a corrupção, como crime, depende do elemento que corrompe, é assim na Lei, é assim na vida. Não há político corrupto sem um interesse pessoal, privado e particular que o torne assim.

Nunca me senti tão confiante no efeito positivo das manifestações. Muito mais do que com aquelas centenas de milhares de pessoas, ou alguns milhões, como outros dizem. Batemos à vontade no Executivo. Apontamos os corruptos.

Agora vamos apontar os que corrompem. Vamos denunciar além da corrupção como crime, a corrupção como distorção. A corrupção que permite que um indivíduo ganhe quarenta vezes mais do que outro que trabalha na mesma corporação, às vezes no mesmo andar, com a mesma formação profissional. A corrupção que permite o pagamento de salários aviltantes por "circunstâncias de mercado", enquanto os donos desse mesmo mercado reservam aos seus o melhores salários. A corrupção que permite que interesses privados, que servem apenas para bancar festins cafonas, sejam definitivamente ultrapassados pelo civismo e pelo coletivismo. Vamos acuá-los, vamos abrir suas caixas pretas e vamos ver quem ganha com o mercado da agonia humana que nossa cidades se transformaram.

Os ares de mudança são tão fortes que até mesmo aquela organização famosa, a que foi expulsa da rua, aquela cuja sede em São Paulo foi enfeitada com 200 kg de estrume suíno, propagou em seu canal de TV a cabo uma reportagem sobre os abusos psicóticos da polícia na quinta-feira negra e sobre a atitude criminosa do nobre arremessador de cinzeiros.

Não sei se isso faz parte de uma nova tática da Rede Matrix ou se é sintoma de uma mudança gradual de comportamento. Noto que a Rede Olho, esses dias, tem sido mais sincera com seu público mais informado, tanto que se curvou a relatar algumas verdades em seu braço cibernético e em seu canal de TV paga. Realmente, começo a sentir o cheiro de novos tempos, só espero que não fique só na marola.


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