sexta-feira, 12 de julho de 2013

A quinta-feira negra

A quem possa interessar:

Sou morador da Pinheiro Machado, quase em frente ao Palácio Guanabara. Tendo em vista toda a movimentação nas redes sociais em prol de protestos para o dia 11 resolvi ficar em casa (vantagens de ser autônomo). Isso veio bem a calhar, já que, hoje, não somos só profissionais executores, precisamos nos preocupar com todas "facilidades" do mundo moderno. Qualquer lobo solitário mequetrefe como eu precisa saber de T.I e de software.

Por volta das 18:30 h. comecei a ouvir os gritos de ordem dos manifestantes e imediatamente me veio a lembrança da última manifestação. Liguei para a minha mulher, que viria a pé do trabalho e passaria bem no olho do furacão.

Conseguimos nos falar, desci e fui ao encontro dela, passei pela manifestação e o cenário era o mesmo da outra vez. Não vi vândalos, não vi terroristas, vi eleitores, vi cidadãos exercendo um dos mais elementares direitos constitucionais. Encontrei com a minha morena e fomos juntos para casa.

O barulho aumentava, assim como nossa curiosidade e de repente o mesmo espetáculo triste da outra vez. Truculência, violência desmedida, bombas de efeito moral e de gás não eram utilizadas para dispersão (o que já seria absurdo) e sim para intimidação. As pessoas corriam, já dispersas, enquanto bombas eram atiradas às suas costas. Evidente que o objetivo dos psicóticos fardados não era apenas sufocar o grito dos insatisfeitos, mas amedrontar os moradores e manifestantes. Covardes. Psicóticos e covardes.

Em pouco tempo pude ver a garotada correndo com bombas em seu encalço. Em alguns minutos o cheiro fétido de pólvora e o gás tomaram conta da rua e do vão central do meu prédio. Mais uma vez pude sentir o fedor da repressão fascista dentro da minha casa.

Nas redes sociais e nos links ao vivo da Midia Ninja vi que a coisa era pior. Não bastasse aquele espetáculo de ilegalidade em frente ao Palácio, observado por este reclamão angustiado, os fardados psicóticos agora atiravam a esmo em sua tática suja de apavorar a população. Atiravam balas de borracha pelas costas das pessoas, o que denota, não só a insensibilidade de quem foi treinado para agredir, mas também a imoralidade de quem foi treinado para se sentir acima da sociedade que deveria proteger.

Estamos diante não só de uma repressão imoral. Seria cômico se não fosse trágico! Em 11.07.2013 foi imposto aos cidadãos cariocas, moradores dos bairros de Laranjeiras, Flamengo, Largo do Machado, Catete e Glória o toque de recolher.
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Na praça São Salvador, conhecido point do chopinho e do chorinho o comércio foi fechado na base da bomba.

A cobertura da imprensa foi a mesma de sempre. Ao que parece os manifestantes são vítimas apenas quando vão ao Leblon, na casa do Cabral. Aqui em Laranjeiras, assim como na Lapa, a polícia apenas revidava o injusto ataque dos "baderneiros", "que são uma minoria dentre os manifestantes pacíficos". Aqui não teve abaixo assinado para tirar ninguém, de lugar nenhum. O povo aqui não está preocupado apenas com a tranquilidade da sua rua, mas também com a tranquilidade de todos. O povo aqui não faz abaixo assinado, VAI PRA RUA!

Em seu parasitismo pendular, um grande jornal, braço cibernético de uma organização que foi expulsa das ruas pela população e agora só pode fazer cobertura panorâmica através de seus caríssimos helicópteros, resolveu aderir à verdade e começou a denunciar os abusos. A tática é óbvia, eles promovem o discurso propício ao público que desejam cooptar. O discurso mentiroso e simplista aos Hommers Simpsons que os assistem pela telinha e o discurso da "verdade" ao público cibernético, que já deixou bem claro que tem acesso a outros meios de notícia e não se ilude com essa agenda perniciosa.

É nessas horas que sinto orgulho de morar aqui. Sinto sim, orgulho, podem me chamar de garoto zona zul. De burguês hipócrita ou de comunista de boutique. Orgulho de morar no único bairro nobre do Rio de Janeiro em que a oposição a essa gangue PMDBista venceu (verifiquem os resultados, por bairro, das últimas eleições majoritárias). Destaco aqui a participação da Bianca, querida amiga que "vale por uma passeata". Somos o bairro dos sujinhos, dos hipsters e dos comunas, mas ao menos não somos o bairro desse discurso fétido de extrema direita que se traveste de moderado. Somos do único bairro nobre do Rio de Janeiro que teve coragem de gritar NÃO! 

Somos do bairro em que o sapatênis branco e as camisas pólo com cavalinhos (que agora chegam ao cúmulo de medir um palmo) não são itens de vestuário obrigatórios. Somos do bairro onde ainda se pode tomar cervejinha em lata na praça sem ser confundido com mendigo ou crackeiro. Me chamem de romântico. De apreciador da pobreza (estereótipo costumeiro dos analfabetos políticos), só não me chamem de conformista. 

Nós, de Laranjeiras, fizemos a nossa parte. E você da nobreza opositora? Fez a sua? Vai pra rua ou vai fazer outro abaixo assinado?

Que os capitalistas fisiológicos pensem melhor nas próximas eleições. Que deixem seu preconceito e seu conformismo de lado e votem em quem não se compromete com o esmagador poderio econômico que massacra nossa casa. Que se oponham a esse conservadorismo radical que visa à mercantilização da vida coletiva a todo custo (salve, salve o articulista Adalberto Moreira Cardoso, o qual não conheço pessoalmente, mas adoro a palavra e, apenas por isso, prezo como se fosse um amigo). Não tenham medo da ameaça vermelha, porque dessa, seu ídolos estadunidenses se ocupam em vigiar. Temam a ameaça mercantil despudorada, pois as consequências disso já se voltam até mesmo contra quem tem riqueza suficiente para não se preocupar com favelados.

Será que teremos que chegar ao ponto de assistirmos a roubos e latrocínios em massa para que se vislumbre o verdadeiro caos social que essa mercantilização cínica está a produzir? Quantas vezes os ricos, dentro de seus carros de luxo, terão se que ser incomodados pelos "comunas" baderneiros para se tocarem que estão a produzir um sistema que não se sustenta?

Aos amigos petistas, cuja ideologia me traz mais afinidades do que a galera do capital, peço que pensem direito e avaliem se a coalizão política é um fim ou um meio. Se, de fato, é vantajoso colocarmos na cadeira mais alta do Executivo aliados do governo que não são aliados do povo. Aliados do governo que são financiados pela mercantilização opressora que relega o povo ao que seria absurdo em qualquer lugar minimamente civilizado. Não se acostumem com o absurdo, pois isso está corroendo nossa sociedade.

Dilma, se quiser o apoio do carioca reveja suas alianças. Não me venha, novamente, como fez seu antecessor, subir no palanque de Crivellas da vida e deixar no ostracismo guerreiros de longa data como o Vladimir Palmeira.

Pessoalmente sempre me opus ao radicalismo dos que gritam impeachment, detesto fazer eco a uma oposição incompetente, preguiçosa e oligarca, que se senta confortavelmente em seus divãs acolchoados enquanto forças midiáticas repugnantes fazem seu trabalho de forma suja e antidemocrática. Pois agora faço eco a eles, infelizmente. Impeachment do Cabral já. Essa figura vampiresca já provou carecer de todos os requisitos minimamente necessários para ser o chefe do Executivo Fluminense.

Seus crimes estão evidenciados. Desde o uso espúrio da máquina estatal até as aviltantes ordens de impor o toque de recolher a quem se opõe aos seus ditames. Fora Cabral e leve a Delta com você!

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3xJ9TRRGDh0

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wU5F71VdFK4

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