segunda-feira, 15 de julho de 2013

O vândalo é o novo preto #BlackBlock & #Anonymous

Fotógrafo: https://www.facebook.com/danielcastelobranc0


O vândalo é o novo preto. Essa frase, verdadeira e simples, foi cunhada por uma amiga de colégio, quando a discussão sobre a minoria de "vândalos" dentre os "manifestantes pacíficos" ganhava forma. Óbvio que "vândalo" é mais um termo estigmatizante, como todos os outros já utilizados pelos conservadores e sua Mídia. "Vândalo", hoje, "traficante" ontem, "bandido" anteontem e "preto" há um pouco mais de tempo. Excluído, marginalizado, abandonado, incompreendido e explorado hoje, ontem, anteontem e há muito tempo. São todos "pretos", são todos "vândalos"!

A prova disso foi o tremendo esforço da Mídia Mafiosa em destacar os "manifestantes pacíficos" e criminalizar a minoria de "vândalos" e "baderneiros". Até aí, tudo dentro da normalidade, afinal, a Grande Mídia nunca procurou esclarecer coisa alguma.

Contudo, merece atenção a falta de compreensão sobre os chamados "vândalos" por boa parte da militância e intelectuais de esquerda. Miguel do Rosário, do Cafezinho, por exemplo, cujo trabalho e coragem admiro profundamente, foi um dos que denunciou, com justificada revolta, a ação dos mascarados fascistas que carregavam coquetéis molotov para incendiar os carros de som e agrediam os militantes da CUT que, assim como a garotada apartidária (ou anti-partidária, infelizmente), têm todo o direito e legitimidade para se manifestar.

O mesmo digo sobre outros pensadores da esquerda que não tardaram a denunciar o viés de extrema direita de um dos Anonymous do youtube. Segundo as denúncias, este canal seria administrado pela juventude do PSDB que, de carona neste singular momento, ansiava pelo golpismo. Acredito neles. Acredito no Miguel do Cafezinho, que relatou o que viu, mas acredito, também, que ainda falta compreensão por parte de todos sobre os variados "grupos".

Nesse ponto, me parece que a juventude anacrônica do PSDB largou na frente. Dotados de maior sensibilidade sobre o que seria apreciado ou não pela garotada, rapidamente trataram de dar uma forma extremamente apetitosa às suas propostas direitosas. Arrumaram uma fantasia, um ar de mistério, uma aparente revolta anarquista e pronto, lá estavam eles sendo repetidos e divulgados em uma tendência golpista e fascista que deixou a todos de cabelo em pé. Felizmente há muita gente democrática atenta, inclusive outros Anonymous.

Em primeiro lugar, importantíssimo que se observe o equívoco de se apontar um Anonymous ou o Black Block como grupos ou organizações. Ambas entidades possuem caráter extremamente plural, variado e sem liderança formal, o que impossibilita uma agenda fixa. Não são grupos, são ideais, comportamentos e forma de expressão. Não procure por líderes, não procure por sedes, não procure por bandeiras, observe as mensagens.

Em segundo lugar, acredito que ainda há muito que observar pelo que minhas opiniões podem ser revistas, apenas procuro, com esse texto, trazer um pouco mais de reflexão para essa questão.

Black Block: anarquistas que servem como "segurança" dos manifestantes. Não são exatamente um grupo e sim uma ideia. Seu viés anarquista os torna extremante avessos a qualquer tipo de liderança formal e os próprios administradores de sua página carioca no Facebook deixam isso bem claro:

 - Black Block não é exclusividade nossa. Junte seus amigos, forme seu grupo.

 Diante de tal sentença, como atribuir a eles e somente eles, a ação criminosa descrita no Cafezinho? Foram os integrantes do Black Block que o fizeram? Pode ser que sim, pode ser que não. A leitura e o acompanhamento dos Perfis do Black Block no Facebook me faz acreditar que não, entretanto, se a cada vizinhança podemos ter uma célula Black Block que contará com um sistema horizontal de organização, fica impossível apontar se os agressores eram efetivamente adeptos do Black Block ou apenas pessoas vestidas de preto.

A ideia geral divulgada pelo Facebook, cujos autores fazem questão de dizer que não são regras ou ditames, me traz a genuína crença de que a maioria esmagadora daqueles que aderem à ideia do Black Block não estaria preocupada em procurar os militantes da CUT para o combate. Não podemos esquecer que outras manifestações foram organizadas para o mesmo dia, principalmente pela garotada apartidária que ansiava em se distinguir dos sindicalistas "contaminados" pelo sistema político que procuram depor. Escaldados pela repressão policial psicótica de antes, acho difícil que aqueles que realmente se identifiquem com o ideal Black Block queiram abrir mão da linha de frente das manifestações apartidárias para caçar os manifestantes petistas. Fora isso, caso as agressões descritas pelo Cafezinho fossem de fato perpetradas pelo Black Block, acho que isso seria assumido em um dos perfis na rede, o que não vi acontecer. Se eles possuem a coragem de assumir seu combate direto às forças policiais e a depredação do patrimônio público e representativo dos grandes conglomerados capitalistas por que não assumiriam a pancadaria contra a CUT? Eles não estão preocupados com a opinião e tampouco com a aprovação alheias e por isso não acredito que esconderiam qualquer ato praticado, na verdade se orgulhariam disso.

Acho bem provável que o viés anarquista e violento do Black Block, sim, é violento e depredador no que se refere à propriedade estatal e aos símbolos do capitalismo, o torne o grande catalizador de toda sorte de desconfiança quando a coisa acaba na pancadaria, mas tenho certeza que se não fosse pela ação deles um número esmagadoramente maior de pessoas teria sido vítima da truculência homicida da Polícia Militar. Foram esses "pretos" que mitigaram a ação desumana e covarde dos vândalos.

A solidariedade para com o pequeno empresário (que, segundo diretrizes gerais divulgadas na internet, também é vítima do sistema), com o oprimido e  a luta contra o monopólio de riquezas não me parece combinar com a ânsia em agredir organizações de trabalhadores, mesmo que partidários de um governo que representa a manutenção da opressão capitalista.

Fora isso, meu breve contato cibernético com o perfil do Facebook me trouxe gratas surpresas: um discurso coerente, inclusive em relação ao uso de software e literatura. Um enaltecimento ao estudo e ao debate fundamentado e o destaque constante de que seus inimigos são o capitalismo e o Estado opressor. Esse raciocínio os leva, até mesmo, a considerar a corporação policial como inimiga apenas nos momentos de repressão. Concorde-se ou não com a posição, tais destaques não se assemelham ao ódio classista. A procura da briga e a perseguição aos membros da CUT me remetem, conforme bem observou o blogueiro do Cafezinho, a um fascismo de extrema direita que, repito, não possui qualquer relação com a ideia Black Block.

Por fim, não podemos esquecer a ação dos "infiltrados". Um fenômeno que embora eu não tenha conseguido observar de forma satisfatória, sei que existe e é responsável por vários desfechos violentos das manifestações. Na que ocorreu em frente ao Palácio Guanabara presenciei o flagrante de um deles e foi só, mas sei, por troca de informações, que isso ocorreu rotineiramente.

O mesmo se diz sobre o(s) Anonymous. A cópia direta do filme de cinema, baseado em uma Graphic Novel extremamente subversiva, não deixa dúvidas que os Anonymous são, também, uma ideia. Os Anonymous são todos nós e ao mesmo tempo nenhum de nós. Tanto é assim que acompanho um Anonymous no Facebook (Anonymous Rio), este específico (logicamente) ao Rio de Janeiro, que traz relevantes mensagens de cunho social. A defesa da aldeia maracanã e de outras lutas dos indígenas, a galhofa com casamento da Dona Baratinha, as denúncias constantes e insistentes sobre a violência policial desmedida, o ataque à elite do transporte, os pedidos de não agressão aos partidos políticos (apesar do apartidarismo declarado) não me parecem, por exemplo, ter sintonia com o caráter fascista do canal de youtube acertadamente criticado pela esquerda.

Uma busca mais detalhada sobre os variados Anonymous na web só confirma isso. Temos Anonymous Brasil, Anonymous BR e vários outros perfis, cada qual com sua agenda, cada qual com suas propostas e mensagens, a maioria com destaque às causas sociais e ao combate ao pensamento conservador que tomou de assalto a nossa sociedade. Isso tudo me leva a crer que a grande maioria dos Anonymous da web não possui qualquer identidade com o mascarado fascista dos vídeos muito bem produzidos e editados do youtube.

Outra evidência disso foi justamente o esforço destes variados Anonymous para desacreditar aquele canal direitóide de vídeo.

Assim, entendo que a mera taxação de fascista aos Anonymous ou ao Black Block é um risco à ridicularização, à ironia, o que, aliás, já ocorre. Não ache que eles estão alheios ao achincalhamento e a tentativa de criminalização da Mídia Mafiosa ou às denúncias da esquerda, principalmente da esquerda governista. Eles se informam, pesquisam e ironizam tudo isso.

A sociedade, principalmente a parcela que acredita no debate, deve, imediatamente, observar esse comportamento com atenção e trazer os portadores das mensagens para o seio da discussão. Ignorá-los, ou, pior, desqualificá-los só vai trazer mais força ao conservadorismo, que quer "manifestantes pacíficos" que enviem seus protestos para as redes de TV e que propagam covardemente a endemonização generalista à toda a classe política. Os Anonymous e o Black Block são uma pedra no sapato deles.

Boa parte da esquerda que hoje está no Poder já foi chamada de criminosa, baderneira, vândala e terrorista, na verdade ainda o é e é com desgosto que a vejo cometer o mesmo erro dos ultra conservadores e, pior, ajudá-los.

Esse ideal, esse comportamento (veja que evito falar em grupos) é caótico e informal e não poderia deixar de ser pois é oriundo do fazer pensar da geração Y, que traz em seu caráter a deliciosa bagunça da internet. Generalizá-lo e, pior, atribuí-lo determinada tendência política de forma direta e açodada é incompreendê-lo e precisamos fazer o caminho inverso pois em pouco tempo serão os Anonymous e os Black Block quem estarão no protagonismo da política do País. Quem você acha que governará o Brasil quando, nós, os coroas, estivermos em outra dimensão? Você prefere um desses Anonymous ou um dos descendentes do clã Barata?

6 comentários:

  1. Excelente... só destacando que a PM é de suma importancia prender a midia ninja para não ser ela a acusada de vandalismo e poder continuar colocando a culpa nos black blocs e anonymous.

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    1. Oi Tina, infelizmente, quando fiz esse texto, a perseguição à Mídia Ninja não era tão descarada. Obrigado pela visita!

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  2. Satisfatório, interessante e muito bem feita a reflexão!

    Já compartilhei na minha página: https://www.facebook.com/pages/Pensando-sobre/578304242179831?fref=ts

    Coloquei o blog nos favoritos e procurarei acompanhar/compartilhar, assim sendo, espero mais bons posts para que possamos esclarecer melhor toda a situação que esta envolvendo nosso Brasil.

    Abraços e bons esforços, sempre válidos.

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    1. Liam Paulo, obrigado pelo comentário e pela divulgação, vamos difundir o "fazer pensar"! Te mandei uma mensagem pelo Facebook, sua página é ótima.

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  3. “Você prefere um desses Anonymous ou um dos descendentes do clã Barata?”

    Nenhum destes inspira confiança.
    Esqueça os extremos; nem oito nem oitenta.
    Tá cheio de gente nesse país que é bom caráter, honesto e guerreiro de verdade.
    Não precisamos nem queremos a versão grosseira de Maquiavel.

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    1. A citação de trecho singular, sem considerar o resto do conteúdo pode gerar incompreensão sobre o texto. Acredito que a minha mensagem seja justamente evitar extremos, daí a minha posição no sentido do diálogo, do entendimento e principalmente da cooptação desta força juvenil para o sistema democrático. Posso ter me expressado mal, mas a pergunta do final é obviamente retórica. Recomendo outro texto meu, O Vinagre Maturado, também publicado neste espaço que pode complementar a opinião contida neste texto e fazer, ainda, maiores esclarecimentos. Agradeço pela leitura e pelo questionamento, sorte sempre!

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