sábado, 24 de maio de 2014

Impasse na Oposição de Esquerda

Fonte: http://creationsjourneytolife.blogspot.com/2013/04/day-352-occupy-wall-street-and.html
A fase de pré-campanha às eleições me mostra dois universos distintos. De um lado o telequete eleitoral entre PSDB e PT, com direito a algumas cadeiradas de Campos e Marina. O PT briga na mídia tradicional através dos milhões em publicidade paga (inclusive com o tal filme que queria afastar o medo) e com seus blogs, apoiadores incondicionais do PT e que, recentemente, têm apresentado um sectarismo muito semelhante ao da mídia tradicional, que claramente apoia o PSDB.

Campos e Marina ficam como aqueles figurantes mascarados dos telequetes aguardando que um dos duelantes no ringue se aproxime das cordas para lhes desferir um golpe ou outro. Às vezes botam a cara no ringue, xingam um ou outro lutador e depois voltam à sua posição de coadjuvante oportunista de qualquer chance de atenção.

Já a oposição de esquerda, completamente ignorada pela mídia tradicional, dá uns tapas através de publicações independentes e de uns poucos que têm vez na mídia tradicional, como Jean Willys na Carta Capital, e se atrapalha. Se atrapalha de forma lamentável.

A polêmica sobre a candidatura de Vladimir Safatle demonstra que enquanto não possuir mais inteligência, continuará ignorada pela grande mídia, exceto nos momentos em que manchetes "disse me disse" acusam deputados e na exploração do que já foi anunciada pelos grandes jornalões como uma crise no PSOL.

Obviamente, primeiro vi pelos sites mais tradicionais que Vladimir teria se irritado com a sua substituição para a candidatura do Governo de São Paulo e teria feito várias ameaças. Pelas notícias da mídia tradicional, haveria um impasse sério e até mesmo possibilidade de racha no PSOL, já que o nome escolhido no lugar dele, o de Gilberto Maringoni, dividiria o partido.

Com meu habitual filtro, não levei aquilo muito a sério e fiquei ainda mais tranquilo depois de ver as explicações de Vladimir sobre a questão no youtube. Como sempre, a mídia alternativa, no lugar de botar palavras na boca dos outros, coloca a pessoa pra falar, o que foi exatamente o que fez Safatle. A divergência e a decepção de quem tem seu nome recusado para uma candidatura me pareciam aparentes, mas ele me parecia conformado e demonstrou respeitar a posição do partido, da qual também discordo.

Questão resolvida? Não sei. Li hoje no Pragmatismo Político que Luciana Genro, contrariada com a rejeição da candidatura de Safatle bateu o pezinho "democraticamente" e anunciou que poderia desistir da posição de vice-presidente da candidatura do PSOL caso Vladimir não fosse recolocado na posição de candidato ao governo de S.P.

A notícia  informa que as declarações irritadiças de Luciana Genro teriam ocorrido na quinta-feira, 22 de maio. A mesma data de postagem do vídeo que esclarece a posição de Safatle. Ao que me parece, Luciana Genro, em seu mimimi, se antecipou e comprou o barulho de quem já não queria mais confusão.

Parabéns pelo chilique inútil, querida (o "querida" não é ironia) Luciana. Nada como dar motivos para uma mídia que ignora os candidatos da oposição de esquerda, exceto quando os usa como alegoria para o regojizo dos conservadores, que ficam cada vez mais aliviados com essas trapalhadas.

Me pergunto se Luciana Genro, antes de fazer sua patetada, viu as explicações de Safatle. Me pergunto, ainda, se vai manter essa posição ridícula e antidemocrática, depois que as ver. Me pergunto, ainda, se essa posição intransigente ajuda, de alguma forma, a evitar a divisão do PSOL.

Novamente, teremos o "vale a pena ver de novo" das eleições melancólicas de outrora. A mídia sistêmica, como sempre, vai alimentar os lutadores que se acusam em uma campanha suja e simplesmente não expressam seus planos e projetos de governo. Já os opositores de esquerda, pelo que me parece, perderão a oportunidade de se utilizar de um dos momentos mais conturbados em nossa política desde 1989 para aumentar enormemente sua representação.

A sociedade civil, principalmente a juventude, cada vez mais, oferece armas para os progressistas. Os coletivos independentes se multiplicam, acadêmicos se organizam e se expressam, faculdades e professores organizam eventos. O aquecimento do debate dentro dos que idealizam mudanças além da troca de tecnocratas é óbvio. As armas estão aí, cada um luta como pode e quando se tem uma enorme desvantagem, há que se entender como usá-las.

Vladimir Safatle me parece saber utilizá-las. Infelizmente, o PSOL não o lançará candidato. Questão superada, a luta continua. Luciana, por favor, se preocupe mais com a sua campanha, pois os 1% de votos, raramente mencionados pela impren$a, precisam ser superados. Como Vladimir falou, demonstrando óbvio conhecimento do caráter global da insatisfação urbana: "Se representamos os outros 99%*, como podemos ter apenas 1% de pretensão de votos?" 


*  *  *


Luciana Genro no Pragmatismo Político: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/05/luciana-genro-publica-carta-dura-ao-psol-sobre-caso-vladimir-safatle.html

A versão de Vladimir Safatle: https://www.youtube.com/watch?v=QeYVHYemLlk  

*Em sua entrevista, Vladimir Safatle demonstra a mesma opinião que eu sobre todo o vinagre na rua. Há efetivamente um rescaldo de um grito global que não deve arrefecer. "Os outros 99%" é uma expressão usada cotidianamente no ativismo Global, principalmente pelos mais variados coletivos que ostentam a expressão Occupy, um dos mais importantes fenômenos de resistência à tecnocracia plutocrática dos últimos anos. 

We are the 99%: http://en.wikipedia.org/wiki/We_are_the_99%25

2 comentários:

  1. Lamentável que o PSTU não tenha sido citado nessa matéria. Atitude de um sectarísmo inexplicável. Especialmente levando-se em conta o protagonismo do partido nas lutas e greves. A analise ficou digna de desconsideração.

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    1. Prezada Mariana, o assunto do texto é outro e nunca, por aqui, deixei de reconhecer quaisquer méritos do PSTU, mas também não deixo de reconhecer os defeitos de quem quer que seja. Não mencionei o PSTU no texto pq. não achei, na época, qualquer posicionamento oficial do partido em relação à polêmica exposta e não costumo cometer leviandades ou colocar palavras na boca dos outros por aqui. Por favor, caso você saiba como o PSTU se posicionou poste aqui que atualizo o texto, agora, mencionar o sectarismo me parece a reprodução de um comportamento radical e paranóico que, infelizmente, ajuda no baixo desempenho de quem representa os 99% na política partidária.

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