segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Vinagre maturado

Foto: Revista Vírus Planetário

Após a ebulição do mês de junho e a ressaca de julho, na segunda quinzena de agosto me veio uma nítida sensação de deja vu. Parece que rebobinaram a fita (peço desculpas pela expressão datada), pois o comportamento da Mídia Corporativa e de seus pobres zumbis me remete aos lamentáveis comentários do Jabor, logo após o primeiro dia das manifestações do Passe Livre.

A mídia direitista, agora, me parece cometer o mesmo erro de outrora, com a diferença de que acha que, ao contrário do que aconteceu em junho, a população não mais tomará o partido dos manifestantes. Daí a minha diferença de opinião em relação à coluna da Vírus Planetário da qual retirei a foto acima. Não vejo um recuo do Poder Constituído e muito menos das forças do Quarto Poder.

O seu principal veículo impresso já partiu para o ataque, publicou em sua capa uma menina Black Block ao lado de uma expressão injuriosa. Sim, ao que parece, tapados são aqueles que lutam pela correta investigação de uma máfia que mercantiliza, à custa de muita agonia, o direito de mobilidade da população. Tapados são aqueles que não se deixaram iludir pela endemonização conservadora da política e partiram diretamente, ainda que de forma extrema, aos símbolos do capitalismo, ditador de uma ética homicida que atinge diretamente vários daqueles mascarados.

Nossos intrépidos ativistas não deixaram por menos. Partiram para a publicação, através da Mídia Alternativa, de uma resposta à perniciosa reportagem.

O nosso Governo, agora com a guarida da imprensa vampira, também faz a sua parte, procura proibir o uso de máscaras em manifestações. Inconstitucionalidades à parte, o cerco está armado e no meio dele o novo preto: o vândalo.

O Ministério Público promete rigor contra eles.

Ante à omissão da Defensoria Pública, nada mais resta aos mascarados senão a valente atuação da OAB e de grupos como o Advogados Ativistas.

Enquanto isso a "classe média" conservadora apóia e flagela. Como andam sempre cansados de alguma coisa, agora, estão cansados desses gritos insignificantes, afinal, o problema são os políticos corruptos. A nossa elite letrada abandonou a rua. Ficaram apenas os "vândalos".

Conforme já afirmei aqui, fico feliz. Fico realmente feliz que os coxinhas voltem para sua poltrona e condenem os manifestantes, reclamem do engarrafamento (que existe, com manifestações ou não) e voltem à sua apatia e ao seu voto, quase sempre tucano, durante as eleições.

Enquanto tudo volta ao normal, enquanto as grandes corporações jornalísticas abandonam os manifestantes, o vinagre cria maturidade.

Passei a acreditar nessa maturidade desde que perfis do Black Block invocaram uma manifestação para a porta do Ministério Público. Aos que os acusam de niilistas, eu diria que a compreensão do sistema e o grito direto, através de uma pauta bem definida, ao órgão que, de fato, possui meios para investigar os abusos do Governo Cabral, não me parece, exatamente, uma estratégia exclusivamente destruidora.

Desde então o vinagre vem tomando mais sabor. Durante o Ocupa Câmara dos Vereadores, os manifestantes, ante à acusação de autoritários foram ao Regimento Interno da Casa e incluíram na pauta a questão da proporcionalidade política na formação da CPI. Concomitantemente, vereadores da oposição ingressaram com um mandado de segurança que, liminarmente, suspendeu o ridículo teatro PMDBista.

Mais uma passo em direção à transparência no transporte público do Rio e mais um passo da garotada em relação ao ativismo efetivo.

Mais uma demonstração de boa mira foi o Ocupa Odebrecht, muito pouco divulgado pela mídia. Pois, apesar do silêncio da mídia capitalista, eu passei lá e vi os seguranças acuados, com as portas do prédio fechadas. Mais uma vez, assim como no casamento da Dona Baratinha, os vândalos foram muito mais longe do que qualquer leitor da Veja, afinal, o reconhecimento dos interesses privados que lubrificam a máquina assassina de nosso sistema é fundamental.

Quando as demais metrópoles brasileiras recuaram, o Rio continuou em ebulição. Logo depois foi organizado um novo movimento em Sampa. "Carioca é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo. Fora Cabral". Realmente, ao que parecia, a grita dos governistas estava certa, pois os ditos manifestantes pareciam se dirigir exclusivamente ao Governo Federal e seus aliados.

Antenados como sempre, os agitadores virtuais imediatamente procuram incluir um "Fora Alckmin" no protesto. Interessante essa nítida intenção de se afastar também da oposição de direita. A divergência, ainda, com o PSTU, o único partido a se manifestar de forma realmente clara em relação ao Black Block, demonstra, contudo, que boa parte dos manifestantes não possui identidade com o sistema político, ainda.

Por fim, um pequeno pito manifestado pela página Black Block em relação à depredação de bancas de jornais e outros pequenos comércios demonstra mais uma sinal de maturidade: lideranças. Por mais que possua organização horizontal, o ativismo virtual, apesar de minguar em número, começa a se tornar mais sólido, justamente porque a organização direta e horizontal começa a mostrar uma forma orgânica de liderança.

E a Mídia Vampira que se cuide, pois os "vândalos" não dependem da Mídia Ninja, um dos seus alvos preferidos. Repudiam a velha mídia e engrossam a nova e enquanto a audiência dos programões de domingo despenca e os jornalões, impressos ou cibernéticos lutam para pagar suas contas, o midialivrismo cresce. Ambos os fenômenos, tanto esse novo ativismo como o midialivrismo se reforçam e possuem um público que cresce diariamente.

Estamos próximos ao 7 de setembro. Data prevista para novas manifestações. Grupos extremamente conservadores, alegadamente contando com a liderança do Bolsonaro se assanham, sindicatos também, assim como os ativistas virtuais. As páginas ligadas à manifestações que acompanho, em sua maioria, se preocuparam em identificar os eventos que apoiavam.

Notável que a liderança orgânica procura não só manter a perenidade das manifestações, mas também afastar seus seguidores das armadilhas conservadoras e dos atos ligados às lideranças sindicais que se mantiveram ligadas ao PT.

Realmente, a nova geração mostrou a que veio e, ao que parece, fez e vai continuar fazendo a minha corar, pois passaram, há muito, da mera pintura na cara. Apesar de serem extremamente cabreiros em relação à política partidária, o que se justifica, não só pelo trabalho conservador incessante em prol da despolitização do povo, mas também em virtude do escandaloso passado da nossa classe política, esses garotos mostram, não só noção exata do que querem, mas um conhecimento do sistema em que vivem muito maior do que aqueles que se limitam a rotular os ativistas acreditam ser possível.

Ao contrário do alegado niilismo, vejo um crescimento significativo de consciência política. Já o problema da representatividade, apesar de difícil, não é impossível de ser superado, principalmente se a classe política fizer a parte dela e se aproximar do grito urbano.


Perfil dos Advogados Ativistas no facebook: aqui
A campanha midiática contra os "vândalos": no youtube
Chatice nova, trilha sonora: http://grooveshark.com/#!/playlist/Geraldo+Azevedo/90044187
Vou ser cabotino, que me desculpe o leitor, com satisfação informo que este textinho foi publicado pela Vírus Planetário: http://www.virusplanetario.net/vinagre-maturado/

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