domingo, 15 de setembro de 2013

Salvemos os escravos cubanos!

A polêmica sobre a "importação" dos médicos demonstrou o sectarismo midiático com todas as suas forças. Sabemos que isso é corrente, mas nunca vi ser feito com tanta desfaçatez e cinismo. A opinião pública há muito não esteve tão alheia a fatos e dados sobre uma questão tão relevante e, pior, há muito não demonstra tanto preconceito, obviamente devido ao veneno da Mídia Conservadora.

Tudo começou com as afirmativas de que os médicos, na verdade, seriam espiões comunistas. Francamente, espionar para quem? Para o poderoso Império Cubano, que tomará de assalto o Brasil? Ou talvez eles estejam preparando o terreno para o golpe stalinista...De tão ridícula, essa aleivosia não colou, mas daí houve uma sucessão de sandices assustadoras.

De tudo isso, desde a falta de divulgação de dados e fatos reais sobre a questão, à toxina reacionária desmiolada, o que mais me contrariou foi a repulsa à suposta escravidão dos médicos cubanos, o que me remete à uma questão já abordada por mim aqui .

Os dados de um ótimo blog (Blog História e Política, que pode ser acessado aqui: http://gustavoacmoreira.blogspot.com.br/ ), em sua postagem Parem o moinho, prendam os moleiros , relata que só em agosto de 2013, fora o caso da boutique, tivemos 3 casos de submissão à condição análoga a de escravo, em São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul. Em julho, tivemos mais três casos, em abril mais dois, e respectivamente um caso em março e fevereiro.

Obviamente, o blog menciona os casos descobertos e consideradas a precária estrutura estatal para a fiscalização e as dimensões do Brasil, certamente, neste exato momento, há no mínimo uma centena de pessoas nessa condição.

Nem mesmo no mês em que o problema foi relacionado à realidade ou desejos dos adeptos da mídia coxinha, já que o fenômeno chegou ao mercado das roupas caras, o problema mereceu uma capa chamativa ou a reprovação de um(a) âncora de roupas chiques.  A mesma revista que falou em espiões alerta, ainda, em uma de suas capas, sobre os perigos de se manter os cubanos sob o seu ditatorial regime legal, ou seja, diz se preocupar com o bem estar dos médicos cubanos, mas obviamente faz isso com puro senso político, sem qualquer apego ao humanismo.

Se humanista fosse, demonstraria de forma bem mais decisiva que se preocupa com o bem estar dos trabalhadores brasileiros submetidos à condições semelhantes as que atribui ao regime cubano. O partidarismo da Mídia, efetivamente se sobrepõe a tudo, inclusive ao humanismo, usado de forma camaleônica  e depois essa mesma mídia reclama da violência dos manifestantes anarquistas que os perseguem na rua.

Não entendem a ética e cultura que propagam? Como acham que as novas gerações vão reagir a esse tipo de inserção midiática? Ou ficam violentos pela repulsa ou por corresponder acriticamente (como faz o grosso dos seus seguidores) a essa mensagem!

Por isso que digo que a posição da mídia corporativa no Brasil é nociva são só porque mente, distorce e não se assume como conservadora, direitista e principalmente tucana. É ruim porque continua se arvorando em sua imparcialidade cínica e é a principal disseminadora do sectarismo e despolitização que geram uma elite violenta e preconceituosa. O resultado disso, conforme nossa realidade demonstra, é uma sociedade que encara a dignidade humana de forma míope ou cínica e quem faz isso de caso pensado é, no mínimo, irresponsável.

Lamentável, por fim, que esse verdadeiro câncer midiático tenha desviado a atenção da opinião pública de uma questão tão polêmica e complexa. Há tanto a se debater, como, se de fato nosso mercado não supre as funções necessárias. Pelas explicações do Governo Federal, houve sobra de vagas oferecidas para brasileiros, mas, a vigilância midiática não seria muito melhor se visasse à verificação cuidadosa dessa informação, no lugar de dizer que serão tragos escravos que aceitarão trabalhar por 20% do que ganha um profissional brasileiro?

Poderíamos discutir sobre como adquirir o treinamento necessário para exercer a medicina preventiva cubana, que lá erradicou doenças da era colonial que ainda temos, para, paulatinamente eliminar a participação dos estrangeiros. Discutir formas imediatas de se levar um minimo de acompanhamento médico para lugares longínquos do País. Talvez pressionar o Governo para que obras de saneamento básico sejam feitas com a mesma urgência com que se fala nos médicos, já que a concomitância das duas medidas é essencial.

Enfim, há espaço para um debate rico e sério com uma questão humanitária imediata envolvida e tudo o que a mídia conservadora faz é fingir se revoltar com a suposta escravidão de estrangeiros tidos como verdadeiros párias (tanto que foram recebidos com histeria no aeroporto), enquanto temos uma escravidão real que já massacra nosso povo que é convenientemente ignorada.

Humanistas não recebem escravos de um regime totalitário com berros acusadores. Apenas pessoas violentas, irascíveis, como a mídia que acompanham.

Em seu desserviço à sociedade brasileira, a mídia coxinha não auxilia na resolução de qualquer um dos dois problemas que cito aqui, muito pelo contrário, coloca seus objetivos políticos e econômicos à frente dos direitos constitucionais mais básicos e, se pudesse, deixaria que todos os que dependem desse debate morressem simplesmente para ter munição política para que seu tão amado partido volte ao poder, amado, contudo, nas alcovas e cantinhos, porque fora do armário, a mídia coxinha é imparcial.



Saiba a opinião de um dos mais conceituados periódicos médicos, de origem estadunidense, O New England Journal of Medicine, sobre a medicina cubana aqui

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