segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Midialivrismo é maior do que Fora do Eixo


Foto de O Tijolaço


No início do mês, devido a contatos pelo Facebook e pela atividade profissional que desempenho tive a chance de assistir a um debate promovido pela Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro. Era aberto e sem necessidade de maiores formalidades, contudo, era esperado que o público se mantivesse restrito aos profissionais da área.

O evento, formado quase que exclusivamente por uma platéia de magistrados, foi organizado pelo Presidente da Associação, o Desembargador Cláudio Dell Orto, de mente brilhante, dedicação profissional ímpar e de uma simpatia contagiante. Junto a ele, na mesa, estavam Adriano Pilatti (que gentilmente convidou uma série de pessoas, inclusive a mim, pela web), reconhecido acadêmico da PUC-RJ e diretor do departamento de Direito da Universidade, que, não bastasse o conhecimento formal sobre muitos dos assuntos tratados no debate, recheou sua participação com colocações pessoais lúcidas e esclarecedoras, Ricardo Brajterman, membro de três comissões especiais da OAB e representante ativo do valente plantão de advogados da Ordem e o "Carioca", da Mídia Ninja.

A platéia, apesar de não muito numerosa (coubemos todos em uma sala) contava com um contingente oriundo dos mais variados Entes Federativos. Salutar que membros do Poder Judiciário tenham se interessado em ouvir algumas palavras daqueles que, direta ou indiretamente, tiveram mais contato com a revolta do vinagre. Evidente que precisamos de membros do Judiciário, não só técnicos, mas também informados e dispostos a fazer uma ponderação profunda sobre os últimos acontecimentos. O evento foi "televisionado" por veículos da mídia digital alternativa, o que aumentou a platéia para mais de 1.000 pessoas, pequeno milagre cibernético.

Passados os esclarecimentos de fato de quem efetivamente viveu a revolta que, como sempre, diferem do "testemunho" da Mídia Conservadora, destaco o meu primeiro contato com a estrutura interna do Fora do Eixo, entidade responsável pela Mídia Ninja, o que foi incrementado com a entrevista de Capilé e Torturra no Roda Viva.

Não muito tempo depois surgiram os relatos na internet sobre aqueles que viviam fora do eixo. Conforme, principalmente algumas cineastas, o caráter horizontal do Fora do Eixo não é como propagado, com destaque a outras divergências em relação à filosofia, o modo de viver e de remuneração nas casas coletivas de produção.

Não vejo tais críticas como má notícia. Na verdade acho ótimo, porque quebra um caráter inocente do movimento. Todos temos que convir que a horizontalidade atinge seus limites quando surgem a liderança e o carisma humanos, isso, para mim, é um processo inevitável em qualquer aglomeração que resista a algumas horas de reunião. Isso demonstra que o Fora do Eixo não é o único representante do midialivrismo (pego a expressão emprestada do Carioca) e que, conforme bem destacado por Capilé, há uma intensa movimentação criativa e profissional há quase uma década sendo ignorada sistematicamente pela Grande Mídia e pelo mercado.

Um outro bom sinal é a assunção de uma parcialidade honesta e declarada, coisa nunca feita antes pela Grande Mídia. Ao expor que a realidade é construída por multiparcialidades diversas, Capilé denunciou o discurso historicamente cínico da Grande Mídia ao se arvorar na condição de observadora e noticiadora imparcial da atualidade. Ao expor que a Mídia Ninja não se resume à opiniões, mas sim à narrativas que podem ser avaliadas no ato pelo telespectador, os representantes do midialivrismo profetizam sobre a falência dos órgãos tradicionais do jornalismo que, convenhamos, já não o praticam de forma verdadeira há muito tempo.

Certos momentos senti verdadeira vergonha alheia da jornalista da Folha que, por mais que tentasse praticar sua manipulação categórica, acabou por ser facilmente rechaçada pelos dois entrevistados.

Um outro ponto positivo do discurso expresso pelos integrantes da Mídia Ninja e do Fora do Eixo que é confirmado com o surgimento dos dissidentes é a falta de controle. Algo incompreensível para a velha ganância capitalista. Notável que a mais surpreendente afirmativa de Torturra e Capilé no Roda Viva se referiam a isso e ao objetivo de que, no futuro, a Mídia Ninja se torne desnecessária. Isso foi suficiente para virar a mente dos tradicionalistas. Some isso a um modo de viver, trabalhar e ser remunerado efetivamente diferente do usual e o inegável fomento cultural ocasionado pelo trabalho não é surpresa a campanha persecutória desferida pelos Jornalões.

Incompreensível para aqueles que não conseguem pensar um milímetro fora do pensamento cartesiano corporativo que os "pioneiros" de uma iniciativa não busquem sua exclusividade ou, ao menos, receber rendimentos através de seu uso.

Como exemplo da perseguição institucional da Grande Mídia, cito uma das gralhas da Globo News que, pasmem, possui uma coluna muito lida no Globo e afirma que o Fora do Eixo é formado por amigos do PT. Ora, a afirmativa é tão ridícula que não resiste ao mero exame da entrevista. Conforme bem destacou Capilé, o Fora do Eixo não dialoga apenas com o PT, mas com uma série de partidos da esquerda. Indagado sobre eventual relação com o PSDB a resposta foi óbvia: indubitável que a direita no Brasil restringe seu diálogo ao empresariado e que não há sequer um partido de tal orientação que entre em contato com movimentos sociais.

Assim, notável a forma perniciosa da Mídia Vampira ao tentar culpar o Fora do Eixo por um fato que se deve única e exclusivamente aos seus lacaios na política.

Contudo, a pobre gralha míope não é a única. Noto uma antecipação quase institucional por parte das colunas de opinião da mídia corpotativa da verdadeira caça às bruxas que pretendem perpetrar. O comportamento vai desde ataques mentirosos até uma depreciação do trabalho alcançado pelo midialivrismo.

Os lacaios do braço político da Mídia Mafiosa, agora, querem investigar o Fora do Eixo e a verba pública que lhe foi destinada para fomento cultural. Nada mais atabalhoado. Conforme demonstra a entrevista, qualquer auditoria será feita com uma facilidade incrível, eis que um único banco é responsável pela mediação do interesse de todos os coletivos no que tange à verba. Não serão encontradas contas em paraísos fiscais, carros de luxo ou parentes que se valem do status de fantasmas na Administração Pública. Na realidade, pelo reduzido volume da verba mencionada (menos de R$ 1 milhão), mesmo que quisesse o Capilé não conseguiria enviá-lo secretamente ao exterior.

Na verdade, o mais impressionante nisso tudo é como os garotos conseguiriam fomentar a realização de mais de trezentos eventos culturais apenas com essa quantia. Ora, quando se exclui mordomias, salários astronômicos e estruturas luxuosas e infladas (à semelhança de algumas estruturas públicas que os mesmos tecnocratas criticam) a conta bate. Apenas isso.

Outro ponto importante é que Capilé afirma categoricamente que do faturamento do Fora Do Eixo, menos de 10% viriam de verba pública, conseguida por meio de editais de concorrência e não através de contratos de publicidade obscuros e imorais. Pois bem, interessa o conhecimento de que garotos "sonhadores" e com viés socialista sejam muito mais produtivos do que os lacaios do capitalismo? Pois, com toda a informação que chegou até a mim, incluídas, logicamente, as fontes de fora do domínio maléfico de nossas organizações midiáticas, essa conclusão é inafastável.

O midialivrismo e não apenas o Fora do Eixo derrubam uma das mais antigas retóricas da direita: de que movimentos sociais ligados à ideologia da esquerda não possam ser produtivos ou sustentáveis. Pois são! E é justamente por sua tendência à estrutura meramente necessária que conseguem fazer isso.

Na minha opinião, os ataques da Mídia Vampira ao Fora do Eixo são fruto de desespero. Desespero porque a garotada conseguiu manter uma estrutura minimamente sustentável com muito menos verba do que os jornalões. Nossos jornalistas tiveram uma verdadeira aula sobre os parâmetros que devem nortear o exercício de veículos virtuais.

Fora isso, o desespero vem pelo resgate do verdadeiro trabalho jornalístico, o oposto a esse denuncismo imoral da Grande Mídia. Desespero diante da percepção de que a nova geração não mais se vale desse mesmo denuncismo para formar sua opinião. Desespero por notar que há novas formas de se produzir e trabalhar diferentes daquelas ditadas pelo mercado e, por fim, desespero porque o Fora do Eixo é apenas a pontinha do iceberg do midialivrismo. É apenas uma faceta de um movimento orgânico, sólido, oriundo de uma nova forma de pensar que vai modificar definitivamente a forma de comunicação jornalística. O midialivrismo ainda tem muito a nos mostrar. Temos uma enorme legião de jovens criativos, produtivos e que não dão a mínima para o que pensam os tecnocratas.

A Mídia Vampira e seus lacaios que se cuidem, pois, caso consigam, de fato, estigmatizar o Fora do Eixo, terão que lidar com vários outros coletivos e profissionais, todos de fora do eixo (corporativista e cínico dos Barões da comunicação).

Capilé e Torturra no Roda Viva: aqui
Tijolaço denuncia a perseguição midiática: aqui
O Blog Cafezinho traz esclarecimentos sobre o financiamento coletivo: aqui
Sobre a vida fora do eixo e a dissidência do midialivrismo: aqui
A verdade nua e crua em ótimos flagrantes no Jornal Zona de Conflito

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