segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Brasil exporta conservadorismo

Foto tirada da imprensa portuguesa: veja a matéria aqui
Qualquer um que frequente este espaço sabe que sou fã do Presidente Uruguaio. Na minha opinião, Mujica sintetiza com precisão a evolução do pensamento de esquerda, principalmente da América Latina. Medidas de cunho progressista e social são tomadas sem qualquer ruptura grave, o que alimenta sadiamente a proposta de Mujica de ampla revisão do mundo contemporâneo.

A luta de Mujica não é pela disseminação dos sovietes, mas sim pelo questionamento da ética homicida de mercado, ou seja, apavorante para quem se utiliza de chavões e frases prontas que um "comunista" que não agride impiedosamente a elite mostre que é possível uma revisão do pensamento neoliberal que vem devastando nossa nave mãe sem que sejam tomadas medidas expropriatórias ou antidemocráticas. 

Mujica demonstra o quão vazia é a acusação de que o pensamento contemporâneo esquerdista seria apenas uma nova edição das restrições à liberdade outrora praticadas pelo comunismo.

O Uruguai é um País de reduzidas dimensões, não se tem notícia, fora o eventual chororô ou desprezo de alguns ultraconservadores, como o acéfalo que afirmou que o discurso de Mujica da ONU parecia coisa de hippie velho, que o "próspero" mundo neoliberal se importe com nosso vizinho.

De forma moderada e racional Mujica vai flexibilizando o pensamento capitalista uruguaio e, normalmente, escapa de ações ou críticas mais contundentes. Tomo como exceção, contudo, os comentários da imprensa internacional sobre o projeto de legalização da maconha no Uruguai.

O projeto é inovador, não só por afirmar um início de racionalismo em relação a política de combate às drogas na América Latina, mas também porque, caso consolidado, tornará o Uruguai o primeiro País no mundo a regular diretamente a venda e o plantio da erva.

Ao contrário do que ocorre na Holanda, o bagulho no Uruguai não será negócio e sim política de saúde pública. A restrição de que apenas cidadãos uruguaios maiores de 18 anos possam comprá-la elimina a hipótese do turismo narcótico.

Fora isso, evidente que o Uruguai, ao tomar tal medida, enaltece o debate da legalização na América Latina. Na Zona do Euro tivemos o mesmo fenômeno. Paulatinamente os países vizinhos da Holanda flexibilizaram sua política e hoje há muitos deles que, embora não tenham ainda legalizado, já descriminalizaram o uso da maconha.

Nos Estados Unidos o debate também tem tomado força, Califórnia, Washington e Colorado já tomaram medidas em prol da legalização da maconha para uso médico, embora vários atores do debate confessem que objetivam, também, a liberação do uso recreativo da cannabis. Enquanto isso, os cães raivosos da direita anacrônica se desesperam, pois os malditos maconheiros já conseguiram imprimir suas propostas até mesmo no seio do El Dorado mundial do capitalismo.

A projeção dada ao preço da erva no Uruguai me parece, ainda, um duro golpe no narcotráfico. Segundo fontes na imprensa, a grama da erva por lá custará o equivalente a US$ 1,00, ou US$ 2,50, segundo fontes, uma pechincha perto dos EU$ 8,00 a EU$ 12,00 praticados na Holanda. 

Notável, assim, que o Uruguai inova ao legalizar a maconha sem qualquer intuito econômico. O objetivo de Mojica não é lucrar com o bagulho, mas sim tirar da clandestinidade uma parcela da sociedade uruguaia e, ainda, retirar o caráter policial de uma questão que é eminentemente de saúde pública.

Não que eu seja contra a abordagem holandesa para a questão. Melhor da forma que é lá do que enaltecer o enriquecimento e a violência dos cartéis da droga, contudo, guardadas as evidentes diferenças culturais, o projeto uruguaio me parece a melhor medida já tomada no Mundo em relação ao consumo da maconha.

As declarações do Chanceler uruguaio, de que a medida ocasionaria o aquecimento do debate no mundo, principalmente na América do Sul deixou nossos reacionários de cabelo em pé. Não bastasse ter que tolerar os "desocupados" marchando pela legalização, eles agora precisam lidar com a lições do "tiozinho comunista" uruguaio.

A reação, até agora, foi vergonhosa. Com desgosto, vi que o Uol publicou notícia de que há uma delegação de brasileiros ajudando a oposição à medida no Uruguai. Não bastasse exportarmos bombas de efeito moral, agora exportamos o reacionarismo.

Fora a vergonha que sinto, como brasileiro, de ver uma delegação de reacionários se imiscuir na política alheia, prevejo as profundas dificuldades que teremos para dar à legalização da maconha um enfoque sério e humanitário. Nossos "maconheiros" que se unam, pois temos muito trabalho pela frente, principalmente diante do tremendo poder político do PMDB, partido sabidamente conservador.

O guru dos tucanóides, nosso ex-presidente FHC gostou da medida. Talvez seja esse o caminho, já que para os zumbis midiáticos, o mais importante é papaguear a opinião alheia, ou então, enquanto o PMDB possuir os numerosos assentos no Legislativo que possui, devamos utilizar a abordagem negocial para a legalização da maconha, afinal, o dinheiro me parece a única coisa que sirva de ponte para o diálogo PMDBista.

Confira algumas notícias sobre o assunto nos links abaixo:


Esse link possui uma entrevista com Mujica sobre o assunto: http://www.bulevoador.com.br/2013/09/uruguai-legalizacao-da-maconha/






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