quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Luta, luto e convergência


Imagem retirada do perfil do facebook do Jornal Independente Zona de Conflito
A lamentável morte do cinegrafista Santiago era uma tragédia anunciada. Acho que em relação a isso há unanimidade, o que muda é a exposição dos motivos e o aponte dos culpados.

Cá pra nós, matéria acusando os Black Blocs não falta na imprensa, cibernética ou escrita, o que me estarrece é que tanto a mídia coxinha, quanto os blogues governistas simplesmente tratam o trágico ocorrido com Santiago como novidade, como a primeira morte ocorrida em manifestações.

Fingem ignorar as várias mortes ocasionadas pela brutalidade policial ao longo de toda essa jornada, falecimentos jamais anunciados com tanto alarde, desprezam a dor dos vários feridos e machucados pelos policiais e se recusam a questionar o que fazia Santiago em uma zona de conflito urbano sem qualquer equipamento de proteção.

Simplesmente acusar os Black Blocs como máfia, grupo, bando e de forma generalista seria me contradizer, já fiz o alarde sobre esse erro aqui no blog (em O vândalo é o novo preto ) e não coincidentemente esse erro é cometido de forma bem mais evidente entre governistas (que não vão pra rua) e pelos adeptos da mídia corporativa, que jamais apoiaram qualquer coisa e, se foram para a rua, portavam cartazes pedindo o impeachment da Dilma.

Exigir, ainda, que os manifestantes separem o joio do trigo é simplesmente impossível e incoerente. As manifestações são populares, vai quem quer, até P-2! Ninguém é dono delas. Logicamente, a aparição de figuras que são defenestradas pela maioria esmagadora dos presentes acaba por gerar um comportamento, às vezes até mesmo em manada, de expulsão, conforme aconteceu várias vezes com agentes da mídia hegemônica, agora, não cabe absolutamente a ninguém impedir que um ou outro as frequente. Esse choro me parece coisa de quem nunca foi para a rua ou daquele que, de tanto habitar gabinetes, salas luxuosas e corredores estofados já se esqueceu de como as coisas acontecem.

PT e PSDB (através da mídia que o apoia, já que não faz política) parecem esquecer suas diferenças e se unem no que acham que será o golpe de misericórdia na garotada desobediente. Não poderia ser diferente. Não se briga com os dois maiores protagonistas do jogo sujo político sem que se sofra perdas e elas estão aí. A evidente animosidade da legião teleguiada à ativista Sininho e o reforço de uma generalização ignorante, que trata todo e qualquer manifestante como terrorista são exemplos disso e fruto, não só do abuso midiático da morte de um inocente, mas também de uma tática de arapuca que há muito ronda o grito urbano.

Mo meio de todo este debate, nenhuma das duas correntes acusadoras comentam que a manifestação que culminou na trágica morte de Santiago se dera em virtude do anúncio do aumento da passagem de ônibus que, segundo o Tribunal de Contas do Município, deveria diminuir, considerado o péssimo nível do serviço prestado.

Ônibus sujos e quentes como o inferno denunciam que o grito contra a Copa é mais do que justo. É tarde para se opor a ela? Lógico que sim! Mas, nunca é tarde para se observar que as promessas de melhorias e legado para a cidade são pura conversa. Nem mesmo o transporte, que deveria carregar os adeptos do futebol foi efetivamente melhorado. Muita sorte dos organizadores que o evento ocorrerá no inverno carioca, fosse no verão teríamos centenas de gringos torcedores desmaiados dentro dos ônibus.

Não coincidentemente, a Copa interessa a ambos os grupos mais influentes na política brasileira. 

Não bastasse isso, a organização que apoiou a ditadura me lança a mais estapafúrdia das "pérolas", a manchete do "disse me disse" que acusava o Deputado Marcelo Freixo de envolvimento com o manifestante que disparou o morteiro. Felizmente, nesse ponto, vários dos blogs e simpatizantes governistas não tardaram a repudiar aquilo, o que me deixa minimamente esperançoso de que, um dia, teremos uma campanha para presidente sem a costumeira baixaria orquestrada pelo PT e pelo PSDB. 

Todo esse alarde e esse comportamento novelesco dos dois protagonistas na política nacional antecipam o que será das campanhas eleitorais. Mais sujeira, alimentada por um longo, enfadonho e improdutivo duelo de acusações. Teremos mais dessa política nauseabunda. Cada vez mais acredito que os grandes concorrentes da política nacional se merecem. E o mais irônico disso tudo é que a mais incômoda das coincidências que cercam ambos os partidos é que não importa o vencedor desse vale-tudo eleitoral, ele terá que afagar o PMDB, a ele estarão ambos atrelados e escravizados, devido à sua própria incompetência e comodismo. Comodismo de um, que para se perpetuar no poder se porta de forma promíscua e autoflagelante e do outro, que de tanto não fazer política se acostumou que outros a façam.

Ao grito urbano fica a luta e o aviso. Há muito que o Estado e a Mídia cercam os manifestantes. Tivemos o DOI-CODI Cabralesco, as tentativas de saque ao midialivrismo e a recente campanha de criminalização dos valentes grupos que assessoram juridicamente os manifestantes. A luta será dura, como sempre, mas os eventos ocorridos após a morte de Santiago demonstram que os dois maiores representantes do capitalismo inescrupuloso brasileiro precisarão, ainda, de muito esforço para calar a boca da molecada.

À família do inocente morto fica o luto, o luto perturbado por toda essa turbulência e pelo abusivo uso midiático de sua tragédia pessoal.

Aos protagonistas da política nacional fica a convergência. Convergência na forma lamentável de fazer política. 

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